O cabra pode ser valente e chorar
- Olga Colvara
- 6 de out. de 2017
- 3 min de leitura

Hoje, plena sexta-feira, bem distante da última terça da crônica que escrevi, abordarei um tópico muito conhecido e falado por todos. Um dos temas favoritos para belas poesias e músicas e a melhor motivação para cartas e telefonemas, falarei hoje da saudade.
Isso porque o bendito Facebook lembrou-me dois dias atrás que em 2015 naquele mesmo dia eu estava em Brasília com meu pai participando de uma das etapas da Nightrun e em 2016 papai estava aqui em São Luís hospedado no meu ap para uma das suas rápidas visitas pela ilha. Bom, mas este ano, na data do nosso encontro, Josias acaba de completar um mês de vida fora de mim e papai acaba de completar um mês de um novo tratamento de saúde, sendo assim nem eu pude estar em Brasília e nem ele veio me ver.
Como uma conexão meio maluca da vida, daquelas que talvez só no céu Deus nos explique seus propósitos, coincidiu que no meu primeiro dia das mães, com papai aqui na ilha, ele descobriu esse problema de saúde e justo no mês do nascimento do meu filho foi marcado o primeiro tratamento em Brasília. E de repente, começamos juntos nossa licença maternidade e paternidade, eu de cá controlando minha alimentação, em casa o tempo todo para cuidar do Josias, estressada as vezes, saudosa muitas outras e alegre outras tantas, e ele de lá, controlando a alimentação, não tão em casa como deveria, talvez estressado as vezes, saudoso muitas outras e alegre também outras tantas. Nem eu cuido dele, nem ele cuida de mim. Deus cuida de nós dois.
Pensaria talvez na sorte de vivermos na era tecnológica e portanto vira e mexe entre uma mamada e uma soneca consigo fazer ligações de vídeo para ele e assim podemos nos ver. O problema neste caso é que a saudade nasceu muito antes dos avanços tecnológicos e decidiu nunca se atualizar. A saudade não cura com fotos, não ameniza com e-mails, não fica mais leve com telefonemas e definitivamente não se satisfaz com ligações de vídeo. A saudade é física e os anos se passaram e como uma avó teimosa ela insistiu em assim permanecer. Só melhora com o contato, com a pele, a voz de perto, a companhia mesmo que silenciosa, o cheiro, o abraço, a blusa estendida na cadeira quando faz calor, as caminhadas pela praia.
Analisando por este lado, a tecnologia só piorou as coisas trazendo à memória esta data de encontros que na correria de uma mãe de recém-nascido talvez eu nunca fosse lembrar. As redes sociais aumentam a saudade. Bem que papai tem insistido para eu voltar a ler, teria dado mais futuro pro meu coração, mas com as madrugadas agitadas com Josias minhas tentativas de leitura durante o dia transformaram-se em sonecas necessárias.
E foi assim, que tomando um chá de camomila no fim da tarde, sozinha em casa e com Josias no quarto dormindo, que meus olhos encheram de lágrimas e pensei “Que saudade!” Lembrei até de um trecho da música do Fagner que ele gosta muito:
“Quando a saudade
Invade o coração da gente
E pega a veia
Onde corria um grande amor
Não tem conversa
Nem cachaça que dê jeito
Nem um amigo do peito
Que segure o chororô
O cabra pode ser valente
E chorar
Ter meio mundo de dinheiro
E chorar
Ser forte que nem sertanejo
E chorar
Só na lembrança de um beijo
E Chorar”
Conclusões que temos para hoje: as músicas do Fagner são ótimas; não perca seu tempo tentando matar a saudade com tecnologia se tiver a chance de satisfazê-la pessoalmente; cuidado com as redes sociais; ser mãe me deixou mais sensível; ler um bom livro é sempre a melhor opção para tardes livres dentro de casa.
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