A sopa
- Olga Colvara
- 8 de ago. de 2017
- 3 min de leitura

Então estamos no segundo semestre e o ano mais uma vez passou voando. Hoje combinei com um amigo de ir jogar squash na casa dele. A casa dele é linda, tem bastante árvores e plantas ao redor, um mini lago, várias árvores miniaturas, chamadas bonsai, tem também dois pássaros, uma piscina boa, uma quadra de tênis ao fundo e a quadra de squash. É o que eu poderia dizer de uma casa completa.
Era por volta de cinco da tarde, demos uma rápida entrada na casa para visitar os filhotinhos da sua cachorra e ao atravessar a cozinha algo me chamou atenção, haviam dois pratos fundos alinhados à mesa:
- Hoje é sopa? Perguntei um pouco eufórica.
- Sim, na verdade toda noite tem sopa, alguns dias tem até dois sabores. Respondeu com um ar de pouca importância no assunto.
Minha boca ficou cheia d’água e meu coração um pouco invejoso. – AH! Como seria maravilhoso jantar sopa todas as noites e ainda poder escolher o sabor! Pensei. Eu amo sopa, daquelas aguadas sem bater no liquidificador, só as coisas dentro e aquela aguinha ao redor, pensei várias vezes como ficaria feliz jantando sopa todos os dias e tentei entender a razão de nunca ter conseguido concretizar esse desejo.
Subindo as escadas para a quadra de squash ainda com os pensamentos na sopa lembrei como nós seres humanos somos radicalmente diferentes em nossas necessidades, nossos desejos e nossa percepção de felicidade. Quão bobas são as coisas que me fazem feliz, talvez o difícil é lembrar delas no meu dia a dia e inseri-las na minha realidade, mais difícil ainda deve ser para pessoas ao meu redor descobri-las e perceber que não precisam de muito esforço para me alegrar.
Suco de maracujá da fruta, sopa aguada, pastel de vento sabor pizza, brigadeiro casadinho de aniversário, pizza, todas as pizzas menos de frango, batata, feita de qualquer jeito, almoço em família sem conversas sérias, esportes, todos os esportes, ouvir alguém tocando violão e tentar cantar, dançar, cantar em karaokê, discutir soluções para problemas em empresas, receber massagem, dias ensolarados, filmes baseados em fatos reais, livro de romance clichê, evangelismo, ensinar crianças, etc.
Gotas bobas de alegria, que não sei desde quando surgiram mas sei que causam em mim uma sincera felicidade e gratidão pela vida. É simples ser feliz quando sabemos exatamente o que nos faz feliz e quando contamos para as pessoas mais próximas sem tortura-las obrigando que descubram sozinhas.
Fazendo um link com a minha profissão na administração creio que a especialidade mais complexa de todos os tempos e que sempre será é a de Recursos Humanos, pois se nós não sabemos o que é verdadeiramente necessário para nos fazer feliz, como gerentes descobrirão como manter cada um de nós alegres e produtivos se temos razões tão diferentes para sorrir? Status, salário, dia de folga com a família, reconhecimento pelo esforço empreendido, investimento em capacitação, café quente durante o expediente, janelas que nos permitam ver o sol, autorização para usar fones de ouvido e ouvir música, liberdade para trabalhar por produção e não por ponto eletrônico, trabalhos mais desafiadores, entre outras coisas que de Silvano a dona José da copa mudarão a cada coração e personalidade.
Fazer sopa não é tão complicado assim, decido então mudar o cardápio noturno da minha casa, decido descomplicar minha felicidade.
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