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Sono Avassalador

  • Foto do escritor: Olga Colvara
    Olga Colvara
  • 18 de jul. de 2017
  • 4 min de leitura

Desde quando eu tenho tanto sono assim?! Passei horas buscando na memória todos os acontecimentos passados desde o meu nascimento e verificando em que momento algo aconteceu para deixar meu sono tão exagerado. Lembrei de alguns momentos na escola em que dormia durante a aula, mas o fazia de forma tão elegante que fiquei conhecida, sem babas, sem pescoços quebrados, apenas uma leve fechada nos olhos como um piscar um pouco mais prolongado e lá estava meu cochilo da manhã.

Não era tão frequente, não que eu me lembre e a minha memória, diga-se de passagem, é algo tão preocupante quanto meu sono. Porém, lembro que quando fui gerente de uma lanchonete que fechava às 1h e eu ainda conseguia acordar às 6h30 para me arrumar para faculdade, talvez existisse um cochilo pela tarde, não tenho certeza.

Lembro que assim que entrei na empresa que trabalho hoje, três anos atrás, meu chefe imediato decidiu me ensinar tudo sobre o sistema de informação e o sistema de pagamento do governo, o gesto foi nobre, a aluna é que não era muito aplicada. Ele tinha a fala mansa e pausada e eu ficava olhando as luzes no computador enquanto ele explicava tudo que eu precisaria saber, era uma verdadeira batalha dentro de mim, aquela briga psicológica entre o anjo bom e o “diabo” do sono, até que o sono, normalmente vencedor desta batalha, vinha e me dominava de maneira sem-vergonha. Por vezes acreditei que os anos de aperfeiçoamento na escola dormindo de forma elegante e a armação dourada dos meus óculos me protegeram de uma demissão precipitada, mas no fundo nunca saberei se meu chefe não percebia que eu dormia ou se percebia e resolveu esperar para testar minha capacidade quando estivesse acordada.

Durante muito tempo eu culpei minhas atividades na igreja pelo meu sono excessivo durante o dia, lá tínhamos ensaio do louvor até 2h, tinham ensaios do teatro até meia noite, tinham reuniões depois do culto e ainda lanches noturnos de conversas eternas com a galera. Imaginava como um sonho bom “o dia que eu sair desse tanto de atividades meu corpo voltará ao normal”, mas eu estava enganada. Ano passado mudamos de igreja, por outras razões claro, e por enquanto em fase de adaptação ainda não estamos participando de nenhum ministério, apenas culto aos domingos e célula sexta. E adivinhem só? O sono não passou.

Foi quando decidi estudar para concurso, os conteúdos são imensos e digamos que 80% da prova são matérias de direito, então o sono ao estudar às 15h em casa era avassalador. Aqui nada mais de elegância, era daqueles sonos que parece judiar do ser humano sem ter nem porquê. A cabeça cai, o pescoço dói, a coluna dói, a água derrama na mesa, a caneta risca a perna, a perna puxa o carregador do notebook e por aí vão os desastres.

Fora a pior parte: a dor na consciência. Quando acordo daquele cochilo sem-vergonha e desconfortável e olho que acabei três itens dos trinta e cinco que tinha planejado estudar, lembro que a prova é daqui dois meses e fico com raiva de mim. Posso quase sair do meu corpo, me olhar com cara de desprezo e dizer “Essa menina não vai a lugar nenhum desse jeito”.

Contudo Deus abençoou o povo brasileiro com a criatividade, como patriota que sou decidi inovar, comprei um saco de jujubas, joguei tudo num pote plástico e quando o sono vinha mastigava aquelas gosmas coloridas mantendo meu corpo em alerta. Até que um belo dia minha irmã caçula que é formada em direito com milhões de artigos publicados na área ambiental publicou um vídeo no facebook no qual mostra que jujubas são feitas de pele de porco, “meu mundo caiu” como diria Maisa. Mas, como boa administradora não desisto de buscar soluções para meus problemas e então, tcharam, pipoca. O sono vinha e eu estourava uma panela de milho e enquanto lia e tentava entender o português rebuscado do direito, mastigava minhas crocantes pipocas ambientais, feita do milho que provavelmente tem bem menos sentimentos que o porco.

Mas pipoca sem sal ninguém aguenta, e muito sal também faz mal. Fui então procurar uma psiquiatra, era o jeito. Depois de uma conversa descontraída e algumas perguntas veio a conclusão:

- É Olga, você não se enquadra em nenhuma das patologias que levam ao sono excessivo. Talvez seja melhor fazer uma investigação do sono num laboratório especializado, o que posso te dizer é que algumas pessoas nem nessa investigação acham a razão do sono. Costumamos dizer que nesses casos é um problema genético, como se o corpo do paciente não tivesse se adaptado ao ritmo de vida da modernidade e por isso sente mais sono que os demais. Apenas para sua prova posso te passar um remédio que vai ajudar, mas não deve ser tomado por período prolongado.

Beleza, um problema de cada vez, primeiro a prova, se eu ficar acordada até o dia da prova já ajuda muito. E ajudou mesmo, consegui estudar durante as tardes e durante a noite não tirava o meu sono.

Passou a prova, acabou o dinheiro para esses remédios e vida que segue entre uma piscada elegante e um pescoço quebrado. Minha casa cheira pipoca alguns dias do mês e estou satisfeita de saber que não há nada de errado em mim, se meu corpo não se adaptou, ele que tenha seus cochilos repentinos quando necessários, sei que serei alguém na vida, só talvez não tão rápido quanto os demais, pois precisarei de algumas pausas no caminho.

 
 
 

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Olga Colvara

Administradora, escritora, esposa e mãe.

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