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Chiva Rumbera

  • Foto do escritor: Olga Colvara
    Olga Colvara
  • 11 de jul. de 2017
  • 5 min de leitura


Abril aproximava-se e precisámos decidir para onde viajaríamos para celebrar nosso segundo ano de casados. Minha vontade era conhecer o cânion de Xingó localizados próximos a Aracajú, pois um ano antes a advogada do meu trabalho mencionou este lugar e eu me encantei com as fotos que vi na internet, porém havia um ano que procurava passagens num preço razoável para a região mas não encontrava. Resolvi procurar mais uma vez e descobri que é mais barato viajar do Nordeste para o exterior do que de uma capital para a outra, tanto em milhas quando em dinheiro o preço era absurdo para chegar da minha cidade a Aracajú.

Foi quando lembrei de uma das edições do Globo Repórter que falou sobre a Colômbia e pareceu um lugar lindo e interessante, pensei “Quer apostar que tá mais barato ir para Colômbia do que ir para Aracajú?”, meus pensamentos estavam certos e por conta da economia compramos nossas passagens.

Nossa viagem durou quatorze dias, divididos entre as cidades de Bogotá, Cartagena e Santa Marta. Temos muitas histórias para contar dessa experiência, mas hoje em especial gostaria de contar sobre a Chiva Rumbeira de Cartagena.

Cartagena é uma cidade linda e cheia de história, suas atrações principais estão entre passear pelas ruas da Cidade Amuralhada (centro histórico da cidade que é todo contornado por muralhas) e os passeios de barco que nos levam para ilhas rodeadas de águas cristalinas. Como toda boa turista, antes de cada viagem eu pesquiso tudo do local e seus arredores e faço anotações do que devemos fazer, o que devemos provar de comidas típicas, onde devemos ir e uma média de quanto gastaremos na viagem. Normalmente o resultado é legal, aproveitamos melhor o tempo que temos e não deixamos de conhecer nada importante, só que um errinho aqui e ali é de se esperar. Durante nossos dias em Bogotá deu super certo e nos apaixonamos pela cidade e seus pontos turísticos e ainda tivemos a sorte de assistir a um jogo no estádio do Santa fé, porém em Cartagena as coisas começaram um pouco diferente.

Nossa primeira noite em Cartagena já estava planejada, faríamos um passei de Chiva Rumbeira. Expliquei para meu marido que esse era um passeio imperdível e que em diversos sites, comentários e no TripAdvisor as pessoas faziam mil elogios. Trata-se de um passeio numa espécie de ônibus todo colorido e aberto, a Chiva, dentro dele há a presença de um grupo de Rumba tocando músicas da cultura colombiana, serviriam bebidas e comidas típicas e teria um guia com microfone anunciando os pontos turísticos e suas histórias.

Até ai tudo bem, coloquei uma roupa colorida e fui me sentindo a própria Shakira rumo ao próximo clipe. Chegamos no horário marcado e embarcamos, o que não sabíamos é que para não perder dinheiro, apesar de marcar um horário com quem compra antecipadamente, a Chiva só começa o passeio depois que estiver completamente lotada e para isso tivemos que esperar sentados até que os vendedores abordassem as pessoas que estavam passando na rua e até passamos na porta de alguns hotéis para checar se nenhum hóspede gostaria de participar do passeio. Com isso ao invés de 19h começamos nosso passeio as 21h.

Nesse ponto meu marido já me olhava de canto de olho, impaciente depois de duas horas sentado naquele ônibus colorido, mantendo a expectativa inicial falei que também estava chateada com a demora mas que o passeio era imperdível e logo valeria a pena. Iniciado o passeio, nosso guia turístico começou a gritaria, sabe aqueles microfones com a caixa de som meio estourada que fica difícil entender o que a pessoa está falando, especialmente se ela falar em espanhol e gritando? Pois bem, era assim. E os pontos turísticos pelos quais passamos estavam escuros demais para serem identificados, fora que talvez por causa do atraso a Chiva passou voando por cada um deles.

Não satisfeitos em nos surpreender eis que paramos em uma minúscula conveniência onde desceu nosso guia turístico e voltou na mão com alguns garrafões de Coca-Cola de 2L quente, um saco de gelo, e umas garrafas de Rum. Entregou uma coca, alguns copos descartáveis, uma garrafa de rum e um pouco de gelo para cada fileira de turista da Chiva e disse com toda naturalidade que só um colombiano teria:

- Essa é nossa bebida típica! Sirvam-se a vontade de acordo com o gosto de cada um e entrem no clima da Rumba!

Sabe aquele momento durante uma viagem que você começa ter certeza que caiu numa daquelas tão conhecidas pegadinhas de turistas, pois bem, esse era o início, mas muitas coisas ainda aconteceriam para confirmar o fato. Olhei para o meu marido e caí na gargalhada, sempre que estou errada com ele não consigo me segurar e tenho crises de risos.

Continuamos o passeio, paramos nas muralhas, descemos do carro e rapidamente nosso guia montou uma mesa de plástico com uma caixa de papelão cheia de salgados que pareciam pasteis de carne sobre ela e distribuiu guardanapos, e mais uma vez com muita simpatia e algum cinismo no fundo do olhar disse:

- Essa é nossa comida típica! Sirvam-se!

É, as coisas não estavam melhorando e nesse momento dentro do meu coração agradeci a Deus por ter me dado um marido paciente. Para anima-lo enchi meus olhinhos de expectativa novamente e disse:

- Amor, mas ainda tem o baile de músicas típicas! Esse tem que ser legal!

O baile era o estopim do passeio, meia noite a Chiva nos levaria para uma boate Colombiana onde poderíamos dançar a vontade e aprender alguns passos locais. Eu e meu marido amamos dança de salão e apesar de não fazermos mais as aulas sempre que temos oportunidade nos divertimos dançando juntos. Por algum motivo imaginei que chegaria numa boate cheia de colombianos dançando e fazendo passos mirabolantes e nos divertiríamos tentando imitá-los e ainda seria um momento “caliente” para o casal em celebração de casamento.

Mas como a vida é cheia de surpresas, finalmente meia noite e a Chiva parou, desci animada e quando cheguei na porta da boate observei que as luzes ainda estavam acessas, olhei para trás e vi mais quatro chivas estacionando no local, não podia ser, a boate só era aberta para os turistas, inclusive estavam nos esperando até para apagar as luzes e ligar o som. Nessa hora a vontade era de chorar igual uma criança que come alguma coisa enganada de que é gostoso e descobre que era legumes ou remédio azedo. O jeito era continuar, entramos, desligaram as luzes, colocaram a música colombiana, e formou-se uma grande roda, tinha um pessoal de NY, alguns brasileiros, uns europeus, uns argentinos e eu, meu coração partido e meu amor.

Dancei, fazer o que? Já que não tinham nativos para inspirar meus passos dancei do jeito que quis inventar, até porque se pra mim estava difícil imaginar pros de NY. E no fim das contas nos divertimos na tal boate pega turista, intercalando entre dança “caliente” e gargalhadas da roubada em que nos metemos e que não foi de graça.

Meu marido ao chegar no hotel decidiu que não queria mais nada típico até o fim dos nossos dias na Colômbia, não poderia culpa-lo apesar do meu caderninho de anotações ainda estar cheio de itens a serem cumpridos. Ficou o aprendizado e uma história que toda vez que é trazida a memória falta nos deixar sem ar de tanto sorrir.

 
 
 

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Olga Colvara

Administradora, escritora, esposa e mãe.

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