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Barriga de Vida

  • Foto do escritor: Olga Colvara
    Olga Colvara
  • 4 de jul. de 2017
  • 4 min de leitura

Estou grávida! E até agora já se foram trinta e duas semanas de gestação, ou no popular, oito meses. Diferente do que eu imaginava a gravidez passa voando e confesso que fiquei um pouco nervosa quando acordei e me dei conta de que já estava com sete meses e ainda não tinha nem começado organizar nada para a chegada do Josias. Foram duas semanas correndo, pesquisando, negociando, comendo muito por estar ansiosa, mas foi possível dar uma adiantada em algumas coisas e por enquanto Josias já tem onde dormir, onde guardar suas roupas, onde passear e naturalmente onde se alimentar. Resolvi então relaxar essa semana e não pensar muito no assunto para voltar meus nervos ao normal e seguir a vida.

Hoje pela manhã meu marido foi dar aula às 5:30 am, resolvi então acordar cedo também para fazer uma caminhada na praia, meus hormônios estão um pouco alterados desde ontem e estou um tanto irritada e comendo fandangos e brigadeiro. Uma caminhada na beira do mar faria muito bem, então coloquei meu top, buxo de fora, short e tênis e fui decidida a relaxar.

Não foi possível aumentar meu estoque de vitamina D pois o sol estava coberto por nuvens carregadas de chuva para esta noite, o mar também não estava essa beleza toda pois ontem choveu então ele estava parado feito uma lagoa e com a cor amarronzada, ainda assim era a praia, obra grandiosa e linda de Deus.

Com meus passinhos ligeiros herdados do meu pai e minha cara zangada herdada da minha mães segui, quando subitamente sou abordada por uma outra mulher com um grande sorriso e um olhar genuinamente empolgado:


- Primeira gravidez?

- É sim.

- Vai ser normal ou cesárea?

- Normal, se tudo caminhar dentro dos conformes.

- Legal! Menino ou menina?

- Menino. Josias.

- Gostei do nome. É bíblico não é? Que você tenha um ótimo parto. – E continuou sua caminhada.

- Amém. Obrigada.


Andei mais devagar por um instante e dei um pouco de atenção para as nuvens carregadas que fizeram uma bonita combinação no céu com aquele mar marrom abaixo e lembrei das tantas ocasiões desde que minha barriga se fez notada que as pessoas foram atraídas com bons sentimentos para perto de mim. Recebo sorrisos de estranhos por onde passo, uma mulher já me abordou no aeroporto para conversar, as pessoas no meu trabalho trazem presentes constantemente, os conhecidos querem pegar na barriga, querem beijar, como se por algum momento aquele pedaço abdominal de mim já fosse um ser independente e mesmo os que acanhadamente nunca me dariam um abraço, são atraídos como ímãs para tocar minha barriga.

Penso que o ser humano tem grande amor pela vida e seus recomeços, há alívio e esperança em mulheres grávidas e cheiro de bebês.

O João pode estar brigado com sua esposa Kátia, e Ana acabou de receber uma resposta negativa da seletiva para mestrado no Rio Grande do Sul, Luiz pode guardar uma frustração por ter trabalhado tanto que não viu seu filho Gabriel ter aprendido andar e falar as primeiras palavras, Júlia está triste ao saber que avó está doente, Cláudio terá que operar da vesícula, Cíntia não consegue quitar a dívida do cartão de crédito, o jornal só trata da corrupção que tomou conta de todo nosso país, a violência em nossa cidade só mostra a crise social em que vivemos, os jovens deixaram de ser empolgados e agitados e agora são depressivos e preguiçosos, a fé de muitos está menor que um grão de mostarda e assim tudo parece ter saído do lugar de repente.

Mas ai passa a grávida com a blusa curta, pouca coisa abaixo do peito, a barriga pontuda com um lista escura esquisita bem ao meio e o João lembra dos desejos malucos que Kátia teve na primeira gravidez e sorri animado para a buchuda, Ana olha e sente seu corpo responder ansioso que está na hora de ter um bebê e não de fazer um mestrado e olha agradecida, Luiz olha e lembra que ainda há tempo para recuperar a intimidade com Gabriel e decide chegar mais cedo em casa hoje, Júlia olha e se sente sortuda por ter sido filha de pais jovens e assim sua avó ter participado de todas as etapas importantes de sua vida inclusive do nascimento da Yasmin, Cláudio olha e lembra que alguém falou que sua dor é parecida com a dor de parto e exibe um sorriso e olhar cheio de compaixão como quem desse forças pelo que está por vir e Cíntia sorri aliviada pensando que bom que ela ainda não tem filhos pois ai sim o cartão não ia ter mais jeito.

A barriga que carrega vida, carrega esperança de novas chances, novas histórias, o Josias pode crescer apaixonado por política e fazer parte de uma nova geração que busca com honestidade e trabalho nos levar para o lugar que esse país tão rico e lindo merece, pode também ser um atleta inspirador que ajudará outros jovens entenderem o presente que é estar vivo e com saúde, pode ser um missionário para falar de Jesus a todos aqueles que já perderam a fé, pode ser o que quiser e nos permite sonhar com tudo que poderemos ser também, porque ali dentro ele está só começando.

Fiquei feliz pela minha barriga, que apesar de coçar as vezes, não me deixar dormir muito confortavelmente, não caber nas minhas roupas e me fazer vestir calça de maneira bem engraçada, ela também faz poesias por si só e é capaz de inspirar e alegrar boa parte dos que a observam.


 
 
 

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Olga Colvara

Administradora, escritora, esposa e mãe.

© 2017 por Olga Colvara. Criado orgulhosamente com WIX.COM
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